
Triste missão essa dos roteiristas,
colunistas, cronistas e escritores em geral. Ter que escrever sem ter o que
escrever. Nossos pesadelos são os dias de tédio, aqueles malditos dias chuvosos
onde nada acontece, nem mesmo uma mosca aparece para se afogar numa pocinha, ou
ser torrada por uma daquelas raquetes elétricas, nos trazendo aos olhos e às
mãos uma dramática história de sobrevivência animal. Nada acontece. Como se não
bastassem os dias agitados, mas sem imaginação...
Ficar sem assunto realmente é um saco.
Quando não existe um prazo ou algo que exija rapidez para fazer os textos, isso
até que não incomoda. Mas caso contrário, é um caos. O papel em branco (ou para
os mais moderninhos, a tela do computador em branco) nos deixa aflitos. Pensa,
escreve, apaga, pensa, escreve, reflete, apaga, escreve de novo, apaga de
novo... e chora, arranca os cabelos, grita, range os dentes, clama a Deus uma
ideiazinha, nem que seja uma boba, mas que pelo menos ocupe meia página e
prenda a atenção do leitor por uns minutos.
Tem dias que só em pensar que devemos
escrever algo antes que alguém reclama que você andou sumido do mundo das
letras já desanima. Sentar na frente do caderno ou do computador dá a sensação
de sentar na cadeira elétrica. Tremo só de lembrar, pois até mesmo a lembrança
me traz aquele frio na espinha, aquele mal estar intelectual que só sente que
escreve. Ou melhor, quem não escreve, mas gostaria muito de estar escrevendo. O
único eterno medo (daqueles incuráveis mesmo, que nem psicanálise ou reza brava
de benzedeira cura) dos criativos escritores (e no caso, dos publicitários) é a
de perder a imaginação, de que a fonte fértil seque. O fantasma da falta de
imaginação é pior que espírito zombeteiro, é de dar medo em qualquer aspirante
a Drummond. Até mesmo escritores renomados temem esse monstrenguinho. Aquela
sensação da presença de falta da imaginação, a não manifestação da entidade no
papel, o clima tenso do silencio abençoando a luz da luminária sobre o papel ou
a luz do computador na nossa cara... dá medo só de falar sobre o assunto. Vamos
mudar o rumo do papo antes que eu não consigo dormir de noite pensando no fato
de um dia eu poder perder a imaginação, da minha musa inspiradora ser assassinada
pelo fantasma maledeto.
Sabe, é muito estranho escrever sobre
não escrever. É muito estranho ser questionado quase diariamente sobre coisas
que não sei escrever. Ah, como eu odeio isso. Bem que hoje poderiam não perguntar
nada, não cobrar textos, esquecer que escrevo. Vocês precisam entender que nós
não temos assunto sempre, e isso é um defeito que não gostamos de demonstrar. Vocês
não sabem como é complicado escrever um bom texto, pois se não for um texto “legível”,
nem compensa escrever, melhor deixar tudo em branco. Mas existe uma parte que é
impossível passar em branco: o título. Essa bendita frase, palavra ou expressão
é a ponta quebrada do nosso lápis, a pedra no caminho de Drummond. É a parte
que, até mesmo quando estamos morrendo de preguiça ou sendo perseguido pelo
fantasma da falta da imaginação, deve ser colocado, e muito bem colocado, pois
é ele o abre alas do texto. O título é a alma da redação. Por esse motivo, eu
optei por colocar reticencias em vez de palavras no texto. Consegui o meu
objetivo, que era fazer você ler até o final. Se não consegui, pelo menos fiz a
parte mais difícil, que era criar um título.
Mas agora já está tarde, se não consegui
escrever uma coisa “legível”, fazer o que? Ossos do ofício. Tá na hore de
descansar dez minutinhos e começar a pensar num novo texto.