Antônia Brasileira, 85 anos, olhar
firme, pensamento distante. Uma mulher bondosa, da confiança de todos da
cidade, que era pequena, porém aconchegante.
De tanto ouvir as histórias do povo, era
o principal “monumento histórico” de Canto Doce. Então, inspirado pela vida da
moradora, um jovem escritor resolve ir conversar com ela e propor a escrita de
um livro com base em suas lembranças. Afinal, ela sabia da vida de cada morador
e ex-morador da cidade, as histórias das antigas construções, dos fatos
marcantes da cidade e, principalmente, da vida de Amaral Baptista, falecido
ex-prefeito da cidade, com quem ela foi casada por 45 anos. Esse interesse pela
vida do finado homem foi despertado no jovem repórter e em toda a população por
ele ter sido um político sempre íntegro, nunca se envolvendo em escândalos
políticos. Todos achavam que, por detrás dos panos, ele desviava uma “verbinha”
aqui e ali.
Após fazer a proposta e ela ser aceita,
o escritor (não sabemos o nome dele) logo começou a fazer os preparativos. No
dia seguinte, assim que chegou na casa da entrevistada e tirou o caderno de
anotações da mochila, foi questionado pela mulher se eles podiam começar com a
história do Amaral, pois ela tinha umas revelações a fazer. O jovem se
desculpou e disse que era muito sistemático, e iria escrever essa história
apenas no final, quando o livro estivesse quase pronto. A senhora concordou,
mas um pouco contrariada.
A população fazia a mesma pergunta para
ele: “Quando vai sair a história do Amaral, hein?” e ele sempre respondendo:
”Calma, esse dia logo chegará”. Após vários meses enrolando D. Antônia, ansiosa
para contar a história de seu falecido marido, chegou o grande dia. Mas, junto
com o carro do homem, chegou também uma ambulância. A mulher havia morrido de
infarto fulminante naquela manhã.
O homem, com medo de ser linchado pela
população, por não ter registrado a história do ex-prefeito, foi embora daquela
cidade, sentindo-se um fracassado.
Essa foi uma história que entrou por uma
porta e saiu por outra, e quem quiser mais uma, que conte outra.
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