quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Quem foi Amaral Baptista?


Antônia Brasileira, 85 anos, olhar firme, pensamento distante. Uma mulher bondosa, da confiança de todos da cidade, que era pequena, porém aconchegante.
 De tanto ouvir as histórias do povo, era o principal “monumento histórico” de Canto Doce. Então, inspirado pela vida da moradora, um jovem escritor resolve ir conversar com ela e propor a escrita de um livro com base em suas lembranças. Afinal, ela sabia da vida de cada morador e ex-morador da cidade, as histórias das antigas construções, dos fatos marcantes da cidade e, principalmente, da vida de Amaral Baptista, falecido ex-prefeito da cidade, com quem ela foi casada por 45 anos. Esse interesse pela vida do finado homem foi despertado no jovem repórter e em toda a população por ele ter sido um político sempre íntegro, nunca se envolvendo em escândalos políticos. Todos achavam que, por detrás dos panos, ele desviava uma “verbinha” aqui e ali.
 Após fazer a proposta e ela ser aceita, o escritor (não sabemos o nome dele) logo começou a fazer os preparativos. No dia seguinte, assim que chegou na casa da entrevistada e tirou o caderno de anotações da mochila, foi questionado pela mulher se eles podiam começar com a história do Amaral, pois ela tinha umas revelações a fazer. O jovem se desculpou e disse que era muito sistemático, e iria escrever essa história apenas no final, quando o livro estivesse quase pronto. A senhora concordou, mas um pouco contrariada. 
 A população fazia a mesma pergunta para ele: “Quando vai sair a história do Amaral, hein?” e ele sempre respondendo: ”Calma, esse dia logo chegará”. Após vários meses enrolando D. Antônia, ansiosa para contar a história de seu falecido marido, chegou o grande dia. Mas, junto com o carro do homem, chegou também uma ambulância. A mulher havia morrido de infarto fulminante naquela manhã.
 O homem, com medo de ser linchado pela população, por não ter registrado a história do ex-prefeito, foi embora daquela cidade, sentindo-se um fracassado.
 Essa foi uma história que entrou por uma porta e saiu por outra, e quem quiser mais uma, que conte outra.   



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